Telefónica pode se tornar principal acionista da Telecom Italia dia 9
A espanhola Telefónica deu mais um passo para se tornar a maior acionista da rival europeia Telecom Italia ? com implicações ainda incertas em suas operações no Brasil. O conselho de administração da Telco, holding que detém o maior número de ações do grupo italiano de telefonia, convocou assembleia geral extraordinária para 9 de julho a fim de acabar com o veículo de investimento.
Em reunião realizada ontem, o conselho da Telco reconheceu que suas três acionistas ? Mediobanca, Intesa Sanpaolo e Assicurazioni Generali ? exerceram o direito de saída do capital social. A dissolução do acordo de acionistas e da empresa foram aprovadas e deixará a Telefónica com 14,77% de participação na Telecom Italia. O grupo Generali deterá 4,32% e as outras duas instituições financeiras, 1,64% cada uma.
Atualmente, a Telco é acionista majoritária da Telecom Italia com 22,39% de seu capital social. As sócias da holding são a Telefónica, que possui 66%, a Generali com 19,32%, e Mediobanca e Intesa Sanpaolo com 7,34% cada uma.
No entanto, a ata da reunião lembra que, para que a Telco acabe, é necessária aprovação tanto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no Brasil como da Comissão Nacional de Defesa da Concorrência (CNDC) na Argentina e do Instituto para a Supervisão de Seguradoras (Ivass, na sigla em italiano) na Itália.
Sem “golden share”
Paralelamente, o conselho da própria Telecom Italia se encontrou também ontem e, dentre outras determinações, aprovou a revogação de um artigo de seu estatuto social que instituía a chamada “golden share” ao governo italiano. Esse benefício daria poder de veto ao Estado em casos estratégicos envolvendo negociações do setor de telefonia e foi criado na época da privatização do sistema.
O artigo incorporava uma mudança no código italiano de 2012, que especificava mais detalhadamente o escopo de atuação dessa “golden share”. “A legislação original e todos os decretos relevantes sobre os assuntos também foram revogados, bem como todas as cláusulas do estatuto que as incorporavam”, diz ata da reunião.
As decisões de ontem abrem caminho para que uma empresa espanhola de fato se torne sozinha a maior acionista da operadora. A Telefónica, porém, terá pela frente uma decisão a tomar especialmente sobre os ativos no Brasil. Por aqui, ela controla a Vivo, e a Telecom Italia controla a TIM Participações. O governo já sinalizou que não vai permitir que ela controle uma companhia e tenha tanta influência sobre outra.
Dentre as opções, aparecem a venda da TIM a terceiros ou sua divisão entre as três grandes concorrentes: além da Vivo, a Claro, controlada pela América Móvil, e a Oi, em processo de fusão com a Portugal Telecom. Ontem, Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, disse, durante evento em Londres, que “o governo não é contra a consolidação do setor, mas também não tomará inciativa” para fazê-la.
Fim da Telco
Dentre os motivos que levaram as sócias italianas a desistirem da holding e a Telefónica a surgir como a herderia da acionista majoritária da Telecom Italia está a redução da atratividade financeira da Telco. Como exemplo, a mesma reunião do conselho que chamou a assembleia e aprovou o fim da firma também tomou conhecimento de baixa contábil de 331,6 milhões de euros relativa à marcação a mercado de sua fatia na operadora italiana.
No ano passado, apesar de os papéis da Telecom Italia terem subido 5%, de fevereiro a setembro os ativos enfrentaram forte queda na bolsa de Milão, em meio ao efeito cambial adverso de suas operações fora da Itália e do enfraquecimento do mercado doméstico. Hoje, as ações valem 0,93 euro, bem abaixo dos mais de 3 euros que chegaram a valer na década passada.
Além disso, a Telco se endividou bastante no período e até 30 de abril possuía obrigações de 660 milhões de euros com bancos. Há também um bônus da holding no mercado, no valor de 1,75 bilhão de euros. Se a firma de fato for dissolvida, todo esse endividamento será amortizado, segundo decisão do conselho.
Fonte: Olhar Digital