Facção Povo de Israel: veja os golpes aplicado por grupo criminoso de dentro de cadeia

Facção Povo de Israel: veja os golpes aplicado por grupo criminoso de dentro de cadeia

Há método por trás das tentativas e dos golpes de extorsão que, iniciados com um simples contato telefônico, vêm atormentando a vida dos cidadãos. Especializados nessa modalidade criminosa, que praticam nas dependências do sistema prisional, integrantes da facção Povo de Israel (PVI) desenvolveram estratégias variadas para ludibriar suas vítimas. Investigações das polícias Civil e Penal do Rio mostram que bandidos do grupo chegaram a se passar por funcionários da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de empresas de telefonia e representantes de instituições bancárias para tentar obter dados pessoais das vítimas.

Nesta terça-feira, a polícia deflagrou a primeira fase da “Operação 13 Aldeias”, referência ao número de penitenciárias sob a influência da facção. Diligências foram realizadas na capital e em outros seis municípios, atrás de um esquema de lavagem de dinheiro que ia de loja de joias em Copacabana, na Zona Sul do Rio, a uma lotérica em Apiacá, no Espírito Santo. A Polícia Penal esteve em presídios onde estão os chefes do grupo criminoso. Foram despachados 44 mandados de busca e apreensão, bloqueio de contas correntes e respectivos ativos financeiros contra 84 investigados, e cinco policiais penais foram afastados.

‘Spoofing’

O trabalho da Delegacia Antissequestro (DAS) e da Subsecretaria de Inteligência, além da Corregedoria da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), começou há dez meses. Nesse tempo, foi identificado o esquema de lavagem do dinheiro obtido através dos golpes praticados por integrantes da facção que, hoje, já tem o maior número de membros entre os presos no estado.

De acordo com as investigações, os criminosos usam aplicativos para disfarçar o número de celular, o que é conhecido como “spoofing de telefone”. Assim, conseguem, por exemplo, exibir números semelhantes aos usados pelas vítimas potenciais — as chamadas, num primeiro momento, podem soar familiares. O relatório de inteligência da Seap estima que o grupo movimenta quantias superiores a R$ 50 mil por semana.

A atuação do PVI em golpes notórios, como o do falso sequestro, foi aperfeiçoada com o tempo. E o lucro obtido contribuiu para cooptar novos membros. O interesse por bandidos expulsos de outras facções criminosas e o “acolhimento” dentro dos presídios atraiu aliados.

Estabelecido nas chamadas unidades “neutras”, sem domínio de facções fortes fora do presídio, o PVI tem uma “caixinha” conjunta, para onde vai parte do dinheiro recebido nos golpes. Com esses recursos são comprados itens de consumo pessoal para o preso que acaba de entrar em uma unidade. Estabelecido o vínculo de confiança, os detentos são convocados para trabalhar como “ladrões”, realizando as abordagens criminosas com telefones cedidos pela própria facção. Pela empreitada, o grupo paga 30% do valor arrecadado.

Anderson Gonçalves dos Santos, o Lord, deixou o Comando Vermelho após ser apontado como mandante do ataque a um ônibus da linha 350, em novembro de 2005. O coletivo foi incendiado e cinco pessoas morreram —entre elas, um bebê. Isolado e ameaçado por seus antigos comparsas, ele foi acolhido pelo grupo Povo de Israel, e agora é apontado como membro da cúpula do PVI no Presídio Nelson Hungria, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste da cidade.

Celulares nas celas

Em nota, a Seap informou que promoveu, “nos últimos dois anos, a apreensão de 6.921 celulares nas 13 unidades de atuação do Povo de Israel”. De acordo com a secretaria, há um processo licitatório em fase final para a compra de bloqueadores de aparelhos celulares para o Complexo Penitenciário de Gericinó.

Segundo a secretária de Estado de Administração Penitenciária, Maria Rosa Nebel, os bloqueadores de celulares dos presídios do Rio estão com tecnologia defasada em uma década.

— O bloqueador que tem lá (nos presídios) é 3G. Está defasado, não consegue fazer o bloqueio total. Deve ter uns 10 anos que não conseguimos uma tecnologia para além do 3G — disse a secretária. — Nós temos um processo em aberto para ver qual tecnologia é mais eficaz para bloquear somente os sinais de dentro das unidades prisionais, sem interferir no entorno. Estamos na última etapa, pesquisando preços. Acreditamos que os primeiros vão começar a ser instalados entre janeiro e fevereiro do próximo ano.

O problema, no entanto, não é só de tecnologia.

— Não vou dizer que o celular entra exclusivamente pelo policial penal, até porque já tivemos apreensão, em 2023, por meio de uma empresa de alimentação, e muitos são arremessados, porque o Complexo de Gericinó tem uma proximidade com a vizinhança — diz Maria Rosa Nebel.

Só na operação desta terça-feira, 120 celulares foram apreendidos nas celas de investigados.

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redacao

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