Modismos que não resistiram ao teste do tempo: da iogurteria e do MP4 ao Google Glass, os produtos que ficaram no passado
Além de uma gangorra econômica que oscilou entre euforia, recessão e pandemia, os últimos 15 anos foram marcados pela digitalização. Os hábitos de consumo, é claro, não ficaram imunes a um processo que deixou pelo caminho produtos e modelos que pareciam consolidados nos primeiros anos do século.
O smartphone emergiu e, para dentro dele, convergiu uma miríade de tecnologias, tornando obsoletos gadgets que orbitavam em torno dos consumidores até então. Poucas redes se consolidaram como as plataformas de predileção de marcas e usuários mundo afora, absorvendo ou extinguindo a concorrência. Inovações deixaram para trás eletroeletrônicos menos eficientes.
A última década e meia foi palco de uma guinada empreendedora — por necessidade ou não — na economia brasileira, dando à luz modelos de negócios e franquias que não resistiram ao teste do tempo. Assim como a tecnologia, os modismos se aceleraram, tornando ainda mais efêmeras as febres incontornáveis de cada momento.
Para marcar os 15 anos da pesquisa Marcas dos Cariocas, que aponta anualmente as preferidas de quem vive no Rio, segue abaixo, um pequeno almanaque afetivo (e não exaustivo) do que já passou:
A franquia sumiu: Houve um tempo em que, a julgar pela proliferação de franquias de frozen yogurt e paleterias mexicanas, tudo o que o consumidor carioca queria era se refrescar. Mas, se o calor só cresceu desde então, esses negócios derreteram.
Câmbio, desligo: Antes do WhatsApp, os brasileiros trocavam mensagens rápidas (e gratuitas) pelo celular com rádio. Foi a febre das telecomunicações na primeira década do século, até que a emergência dos apps de mensagem instantânea tornou o celular com rádio obsoleto. A Nextel, que operava o serviço, encerrou-o definitivamente em 2018.
iPod genérico: Numa era pré-streaming, os ouvidos dos brasileiros eram embalados por aparelhos conhecidos pelo exótico nome de MP4. Promovidos como a evolução do MP3 — por contarem com a tecnologia de compressão tanto de áudio como de vídeo —, descaradamente inspirados no iPod e quase sempre sem marca, o gadget foi mais um que acabou esmagado pela supremacia do smartphone.
Queridinhos extintos: Em 2010, os brasileiros compraram mais de meio milhão de Gols e Unos, modelos populares fabricados por Volkswagen e Fiat, respectivamente. Naquele ano, os dois foram campeões de venda isolados, em mais uma consagração de dois carros com décadas de estrada na indústria automotiva nacional. Hoje, não existem mais: o Uno saiu de linha em 2021, enquanto o Gol — o carro mais vendido da história do Brasil — parou de ser fabricado em 2022.
Todos juntos? Antes que houvesse “unicórnios” (startups que valem bilhões de dólares), o ecossistema de tecnologia brasileiro depositava todas as suas fichas nas chamadas compras coletivas. O modelo deu certo por um tempo — atraindo inclusive players internacionais —, até que deixou de dar.
Clubismo. Os clubes de assinatura não enfrentaram o fracasso retumbante das compras coletivas, mas perderam muito do vigor que registravam poucos anos antes da pandemia. De cervejas a barbeadores, produtos de toda sorte embarcaram na onda. Mas a solidificação dos marketplaces de e-commerce direto, com entrega super-rápida, esvaziou parte do apelo dos clubes de compra.
Viva a revolução (que não veio…). Incensados como o futuro da tecnologia nos anos 2010, produtos como o Google Glass — os óculos inteligentes da firma de Mountain View — e Microsoft Kinect seduziram companhias mundo afora antes de serem varridos para debaixo do tapete do Vale do Silício ou para o fundo do armário dos consumidores.
Bolo de pote, eu fui! Quem não comeu (ou vendeu) bolo de pote na última década simplesmente não viveu. O quitute integrou o mesmo flashmob gastronômico que fez proliferar lojas de cupcake, pokes, hambúrguer gourmet e cerveja artesanal nos anos 2010. Todos ainda existem por aí — afinal, admita-se, são gostosos —, mas a urgência em degustá-los parece ter passado entre os brasileiros.
Grava pra mim? Antes de serem mimados pelo streaming instantâneo e pelo armazenamento na nuvem, os consumidores brasileiros assistiam a seus filmes e transportavam suas músicas e arquivos por aí recorrendo a mídias como pendrive e Blu-ray. Mas a obsolescência tecnológica foi particularmente cruel com elas. Descansem em paz.
Remover a amizade. Fanáticos por redes sociais, antes do predomínio de Instagram e TikTok, os brasileiros se jogaram no Orkut como nenhuma outra nacionalidade, deram seu voto de confiança ao Google+, fizeram check-in até na birosca da esquina pelo Foursquare, demonstraram natural simpatia pelo Tumblr… A maioria nem existe mais, e poucos ligam para as que sobraram.
Deslizando por aí. Em algum momento, as patinetes deixaram de ser brinquedo de criança para virarem diversão de marmanjo em pontos turísticos ou — no sonho dos startupeiros responsáveis pela febre — opção ecológica de micromobilidade. Faltou combinar com as cidades, cujas calçadas foram entupidas de patinetes e que respiraram aliviadas quando elas desapareceram. No Rio, a moda parece estar voltando, a dúvida é se, desta vez, é para ficar.
Nockout. No começo da década passada, o Brasil parecia ter deixado de ser o país do futebol para se tornar a nação das artes marciais mistas, ou MMA, na sigla em inglês. Os lutadores brasileiros estavam no topo, e bares Brasil afora transmitiam seus duelos em looping.